Campo do Brito – Sergipe
Até aquele momento eu era apenas uma atleta de provas estaduais. O Campeonato Brasileiro de XCM nunca tinha passado pela minha cabeça. Era algo distante, um sonho que parecia fora de alcance. Mas então, um dia, vi uma prova nas redes sociais e despertou algo dentro de mim. Algo inesperado e poderoso. Eu sabia, queria estar lá, no meio dos grandes nomes do Mountain Bike Nacional, não pensei em vitória, queria aprender, ganhar experiência, conhecer meus limites.Estava claro, esse era meu objetivo: Eu iria! Como? Não sabia. Mas eu iria! O desconhecido despertou em mim ainda mais a vontade de desbravar algo novo e testar meus limites.
A aventura começou no aeroporto com o despache da bike, já imaginou se a bike não chegasse? Foram mais de 3 mil quilômetros sozinha, somente eu e meu sonho com destino ao desconhecido, um lugar inimaginável chamado Campo do Brito, no estado de Sergipe. Uma experiência única, em todos os sentidos. A distância, a solidão da viagem, o clima quente e seco, a cada passo, ou melhor a cada pedalada, me mostrava o quando eu estava saindo da minha zona de conforto, me desafiando, me forçando a crescer. Não foi uma simples viagem, foi uma jornada de autoconhecimento.
Quando cheguei no local da prova a realidade me atingiu em cheio. O calor era imenso e o ar seco. Nada daquilo era familiar para mim. A prova seria dura, eu sabia. Medo? Esse eu deixei no caminho. Estava ali para viver aquilo, para me entregar aquele momento e dar o meu melhor. Nada mais me importava, não me preocupei com o resultado, eu estava vivendo.
A largada foi difícil, logo no início, minha boca secou, eu respirava e era como se não estive entrando ar em meus pulmões, a temperatura já passava da casa dos 40°C. Cada pedalada parecia um teste de resistência. Eu ainda estava aprendendo como lidar com esse novo mundo. Durante a prova de mais de 80 quilômetros e 2.000 metros de altimetria acumulada, todas as curvas me desafiavam, a cada subida era um lembrete que meu limite estava logo ali, minha força sumia, o calor parecia me engolir, a sede e o cansaço me testavam, mas eu sabia de uma coisa, não poderia desistir.

Minha experiência em provas longas era limitada, me mantive firme, tentava me hidratar, comer o que podia, mas, no fundo, eu sabia que o mais importante era escutar meu corpo, aprender a ouvi-lo. Eu não sabia o que estava fazendo direito, mas sabia que estava fazendo o meu melhor. E, no final, meu corpo já não respondia, quem pedalava era minha mente, minha vontade de terminar, e quando olhei para frente, vi a linha de chegada. Nunca vou me esquecer da sensação de cruzar a linha de chegada, eu me senti invencível. Terminei entre as oito primeiras colocadas, mas isso não importava. Eu venci os meus limites, venci o meu corpo, venci a minha experiência. Nunca imaginei que conseguiria algo assim, mas eu fui lá e fiz acontecer.
Olhei para o resultado e vi muito mais do que uma colocação em um ranking. Vi uma jornada de superação, de aprendizado e muita coragem. Vi o que significa ser mulher nesse esporte, onde o caminho é árduo, difícil e com muito preconceito. Mas a recompensa está no sorriso de quem se arrisca, de quem se entrega de corpo e alma, sem medo.
Essa jornada me mostrou que o lugar de uma mulher no MTB não é apenas como coadjuvante, mas como protagonista. Ela me ensinou que somos capazes de ir muito além do que imaginamos, basta acreditar e dar o primeiro passo, mesmo que ele pareça impossível. Eu não só aprendi sobre o ciclismo. Aprendi sobre mim, sobre o poder de nunca desistir, de encarar desafios com a confiança de que, no final, a vitória é de quem tem coragem de tentar. E essa experiência ficará comigo para sempre. Ela me mostrou que eu sou capaz de muito mais do que eu pensava.

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