Eu, que sempre acompanhei essa prova com admiração, de repente me vi diante da chance de vivenciar tudo de perto, como atleta. Foi uma mistura de gratidão, empolgação e responsabilidade — vestir a camisa de uma equipe forte, representar uma marca importante e, acima de tudo, me desafiar em um novo território, com novos rostos, sotaques e terrenos.
O Tour da Bahia é uma prova por etapas que exige não só preparo físico, mas também resiliência. Na categoria feminina, a competição é dividida em três etapas. A abertura é um contrarrelógio de 10 km, curto e explosivo, onde cada segundo faz diferença. Em seguida, enfrentamos duas etapas longas de 110 km com muito calor baiano. É o tipo de prova que testa todas as suas versões como atleta — da explosão à resistência, da cabeça fria à garra nos momentos mais difíceis.
Levei minha bike pronta para o desafio, mas ao chegar, tive um contratempo mecânico que poderia ter comprometido minha participação. Foi nesse momento que a sorte e a parceria falaram mais alto: surgiu a oportunidade de competir com uma bike Felt, marca oficial da equipe Emthos Felt Racing, o que me deu ainda mais confiança para encarar os três dias de prova.
Na primeira etapa, o contrarrelógio, o desafio começou antes mesmo do cronômetro iniciar. As bikes de TT, com sua aerodinâmica superior, garantem tempos bem mais competitivos do que as speed convencionais e isso se refletiu no resultado final. Mesmo com essa diferença de equipamento, consegui um sólido 6º lugar, o que me deu ainda mais motivação para as etapas seguintes. Era só o começo e eu sabia que ainda tinha muito chão pela frente para buscar minha melhor performance.
A segunda etapa foi daquelas que colocam a nossa cabeça à prova. Logo no início, tive problemas mecânicos e acabei perdendo o pelotão principal. Em provas longas como essa, isso pode ser um golpe duro, mas desistir nunca foi uma opção. Logo percebi que outra atleta também havia ficado para trás e juntas formamos uma dupla determinada a voltar para prova. Trabalhamos unidas, revezando, mantendo o ritmo, buscando motivação uma na outra. No quilômetro 70, finalmente conseguimos alcançar o pelotão novamente, uma conquista que teve gosto de vitória. A essa altura, uma fuga já havia se consolidado na frente e o grupo principal apenas administrava o ritmo. Me mantive ali até a chegada, que foi decidida no sprint final e garanti a 8ª colocação do dia.
Na terceira e última etapa, eu já sabia que teria um longo dia pela frente. A estratégia era clara: me manter no pelotão principal e guardar forças para o momento certo. Mas eu também sabia que se deixasse para decidir no sprint final, minhas chances seriam menores. Como estava me sentindo bem, resolvi arriscar tudo. Faltando 3 km para a chegada, na última subida do dia, apertei o ritmo e fui embora. Transformei os quilômetros finais em um verdadeiro contrarrelógio. Cruzei a linha de chegada com cerca de 1 minuto de vantagem sobre o pelotão, garantindo a 5ª colocação geral na prova. Foi a coroação de um final de semana intenso, de superação, trabalho em equipe e coragem para acreditar nas minhas escolhas.
Sair de Castro Alves com essa colocação e com tantas histórias na bagagem foi mais do que especial. Agradeço à Emthos Felt Racing pela confiança, aos meus patrocinadores e a todos que torceram por mim. O Tour da Bahia 2025 foi uma prova dura, mas também foi sobre conexão, evolução e entrega. Que venham os próximos desafios. Sigo com o coração cheio, as pernas firmes e a cabeça ainda mais forte.
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